Não é de hoje que os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pensam em unificar as ortografias de nosso idioma. “Os trabalhos da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa tiveram início em 1980 e consumiram dez anos de negociações até o acordo ortográfico ficar pronto. No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o texto em 1995, mas (…) ficou ‘na gaveta’, à espera da aprovação pelos parlamentares de Portugal”.
Agora, a Comissão de Língua Portuguesa (Colip), do Ministério da Educação, já propôs que a reforma entre em vigor no próximo dia 1º de janeiro. Estima-se que o período de transição para a nova norma dure três anos.
“Se a proposta do MEC for cumprida, todos os textos produzidos a partir de 2009 terão de ser impressos segundo as novas regras lingüísticas. Vestibulares, concursos e avaliações poderão aceitar as duas grafias como corretas até 31 de dezembro de 2011. Quanto aos livros didáticos, deve haver um escalonamento.”
Não há unanimidade entre os professores de língua portuguesa. Vejamos alguns:
Para o professor Sérgio Nogueira, “não há dúvida de que o Brasil necessita de reformas, mas não na ortografia. Temos problemas mais urgentes. Precisamos de reformas na política, na economia, na educação, no judiciário. Pelo visto, diante da dificuldade de fazer outras reformas, vamos mudar a ortografia. Se resolvermos os problemas do nosso sistema ortográfico, o brasileiro ‘com certeza’ viverá melhor.”
Professor Pasquale Cipro Neto é um dos que se manifestaram contra o documento. “Ele não se limita a uniformizar a grafia: estabelece outras alterações no sistema ortográfico, várias delas para pior.”
É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é a unificação da grafia de algumas palavras.
O lado positivo: a língua portuguesa (comum aos países lusófonos) tem tudo para ganhar espaço - até mesmo em fóruns internacionais -, pois o intercâmbio de informações e textos ficará mais fácil. Unificar a grafia também visa aproximar as oito nações da CPLP, reduzir gastos de produção e adaptação de livros e facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias, bem como simplificar algumas regras (que suscitam dúvidas até entre os especialistas).
Do ponto de vista prático, ganha força o idioma falado no Brasil. Isso porque os protugueses terão de promover mais mudanças na escrita do que nós, adaptando várias palavras à grafia brasileira. Por exemplo, acção passa a ser ação. E cai também o h inicial de herva e húmido.
Afirma Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL): “Inscreve-se, finalmente, a língua portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia”.
Bem… é esperar para ver, na prática, o resultado da reforma ortográfica.
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